Cash

05/08/2012 17:44

 

Nas entranhas do jabaculê é onde o sucesso musical é fabricado

 

Sonhei que estava entrevistando uma fonte que é ligada ao mundo do rádio. Neste sonho louco e realista, puxei papo sobre a tal cobrança de jabá (pagar caro para tocar uma música) nas emissoras de rádio de Salvador.

Arisco, consciente do vespeiro que é o assunto, o entrevistado do meu sonho pediu para ficar em off, pois não tinha provas para alicerçar o que dizia, não sendo possível, sem provas concretas, dar nomes aos bois.

Dei minha palavra que cumpriria o acordo verbal e registrei algumas passagens do papo-sonho-realista, que, em verdade, mostra parte do processo econômico que passa a música baiana e, quiçá, brasileira.

Sobre cifras do jabaculê, a fonte disse que depende dos horários, da quantidade de vezes de execução e da posição da emissora no ranking de audiência.

Se a emissora estiver na liderança da audiência popular, a execução pode chegar, ao mês, à casa de R$ 80 mil, variando para mais ou menos se houver ou não propaganda agregada.

Uma coisa que também foi mencionada pela fonte do sonho diz respeito ao jabá para não tocar a música do outro. Se um artista ou produtor quiser utilizar o artifício do jabá para fabricar um sucesso, existe a possibilidade de o concorrente deste pagar um determinado valor para não tocar.

Assim, há um ganho duplo: o primeiro com o horário pago, porém vago para um determinado artista; e o segundo, que é para tocar um artista que não tem concorrente direto.

Quis saber qual a principal motivação para pagar tanto para tocar uma música na rádio, uma vez que a internet possibilita o sucesso natural, via youtube, e sem precisar desembolsar nenhum centavo.

A resposta foi precisa. As rádios massificam com precisão cirúrgica e iludem os ouvintes, que pensam que aquilo que está sendo tocado é natural e não sendo imposto por quem paga e deseja obter retorno em shows e, também, na projeção de quem está cantando a música, que pode ser uma banda ou um artista em carreira solo.

Desde quando a pratica existe nas emissoras de Salvador? Segundo a fonte do sonho, sem muita precisão, o jabá ganhou força com a consolidação do mercado da música local, na virada dos anos setenta para os anos oitenta do século passado (1979/1980) e com a explosão das emissoras em FM.

Sem citar nomes e reforçando que não tinha provas, a fonte contou que no boom da música baiana (anos 80) até os dias de hoje, a praga do jabá impediu que outros estilos de música fossem tocados nas rádios de apelo popular, havendo o jogo de interesse de artistas, de produtores, de empresários da indústria da música e de pessoas ligadas às rádios.

E quem se salva? Alfinetei. A fonte assegurou que a Rádio Educadora da Bahia foge à regra, pois a sua grade de programação não tem o propósito de massificar. Lembrou ainda que as rádios que não são exclusivamente musicais, basicamente de veiculação de notícias, passam distante do jabaculê.

O que o jabaculê causou à música baiana? Conforme a projeção da fonte do sonho, em mais ou menos trinta anos de prática, a música baiana perdeu o bonde da vanguarda brasileira, passando a fabricar sucessos que jamais tocariam numa rádio se o conceito estético e do merecimento natural fossem definidores do que se toca ou não na rádio.

E quem mais ganhou com o jabá, quem são as pessoas e as rádios? Quando a fonte ia responder, o relógio tocou às 5h30 e me acordou. Era hora de levantar e correr para pegar no batente. No caminho do trabalho, no caótico trânsito de Salvador, pude refletir sobre este sonho, ou melhor, sobre este pesadelo ou vespeiro chamado jabá.

 

 

 

Luiz Caldas e César Rasec

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